terça-feira, 21 de setembro de 2010

Uma aula, uma receita, uma paella

O que acontece depois de um curso de Cozinha Espanhola, uma troca de receita e o empréstimo de uma paella? Vejam abaixo mensagem de uma aluna querida - é de chorar!

"Querido Joel,
Tivemos ontem uma tarde e uma noite memoráveis, daquelas que jamais esqueceremos.

Tudo começou com muito trabalho, na lida da limpeza das lulas, dos camarões, dos mariscos, dos vôngoles, todos fresquíssimos, graças à boa indicação da Beth.

Houve, no decorrer do dia, quem dissesse que tanto trabalho não valia a pena, no que eu me limitava a dizer, do meu jeitinho “meigo” espanhol, que esperasse o resultado para depois tecer os comentários.

Não que eu tivesse certeza de que me sairia bem, mas porque sabia que havia um espetáculo por vir, que nos faria esquecer toda aquela misanplace. Mas, confesso, nem eu esperava que o espetáculo seria tão bom!

A tarde foi se desenvolvendo com muita gente na cozinha, amigos chegando, criança trançando, eu ora ou outra esbravejando, mas tudo transcorrendo muito bem, com muita alegria.

Pan com tomate y jamon, montaditos de bacalao, de calabacin con anchovas, de atun y puerro, salmorejo para una tarde linda de sol, cerveza e sangria. Convidados chegando sem saber o que presenciariam. O “Coro Rociero de la Hermandad de Seviilla” tocando, tudo como os nossos loucos ancestrais, meio sacro e meio profano.

Eu estava um pouco preocupada, se bem que entre tantos amigos e tanto zelo de mãos de mãe e de irmãos, ainda que o resultado não fosse satisfatório, já teria valido a pena.

Nada como uma boa sangria para relaxar e deixar a alegria rolar!

Lá pelas tantas, paellero montado em pleno quintal, começa um ritual maravilhoso, e, certamente, uma das experiências mais emocionantes que tive na cozinha.

Sem combinação alguma, por supuesto, a paella passou a ser conduzida por mim e por meus dois queridíssimos irmãos: José Maria e Adriano. Tacho grande, necessidade de girá-lo, de mexer ora de um lado, ora de outro, de sentir o que se passava do seu lado, de sugerir algo a quem se posicionava do outro lado, de falar bobagens, de rir e, acima de tudo, de se unir naquele gesto maravilhoso, que não queríamos que acabasse jamais.

Aceite, cebolla, ajo, pimientos verdes y rojos. A partir daí, uma palavra bastava para que todos os nossos pedidos fossem prontamente atendidos: arroz, ervilha, vagem, lulas, camarões, mariscos...afinal, todos queriam se aproximar ainda mais e colocar um pouquinho da mão naquele grande e generoso tacho e deixar ali, ainda que pequena, a sua marca.

Cumpleaños feliz, cumpleaños feliz...!

E que felizes estávamos, especialmente minha irmã, a aniversariante, que não poderia ter recebido presente melhor, segundo nos diziam os seus olhos.

Neste momento olhei para a minha mãe e senti que ela voltava no tempo, na fazenda no interior de São Paulo, com seus pais e irmãos, onde ainda só se falava o idioma trazido no coração, provavelmente cantando compleaños para um deles.

Confesso a você que, agora, pensando friamente, foi uma loucura me dividir entre a emoção e a atenção.

Novos momentos de tensão e o medo entre o sucarrat e o queimado.....líquido sobrando no centro, calor residual, desliga o fogo e seja o que Deus quiser!!

Depois de tanto trabalho quem descansou foi ela. Por 10 minutos, coberta.

Tempo suficiente para, à meia luz, camarões, lulas, mariscos, vôngoles, arrozes, pimientos, cebolas e,alhos fazerem uma grande conferência, presidida pelo azeite, e concluírem que depois de tanta dedição e emoção de todos aqueles à volta, seria um desacato não colaborarem para o triunfo daquela noite.

E assim foi!

Mais um ritual para sacar a tolha que cobria o paellero e começamos a servir.

Meu Deus! Vai sobrar muita paella! Que loucura!

Quero mais! Está deliciosa! Você de novo aqui!

Será que vai faltar!!

EPETACULAR!

Nos fartamos de alegria, nos fartamos de comer!

E os créditos, vão para quem?

Vão para você, Joel, que não me deu uma simples receita, que não mostrou apenas técnicas. Mostrou amor, vontade, generosidade, ingredientes sem os quais, certamente, o trabalho não teria valido a pena!

Lembrei muito de você em toda aquela emoção e somente lamentei por você não estar lá. Me arrependi de não ter insistido para você se desfazer do seu compromisso e ir conosco.

A você, Joel, muito, muito obrigada, mais uma vez, pelos ensinamentos de toda a ordem e pela generosidade, não só na aula, mas também quando me ofereceu o seu queimador, que brevemente lhe será devolvido, pessoalmente.

As fotos mandarei depois. O relato segue agora, enquanto as emoções ainda estão presentes!

Um beijo e que Deus te proteja!"

2 comentários:

  1. Joel,
    É emocionante ler este texto e a intensidade com que ele foi escrito! A mesma intensidade , dedicação, carinho e coração que recebemos de você em suas aulas....de fato, toda esta lição de vida vai fazer muita falta quando o curso acabar porque você coloca muita alegria em muitas casas. Na minha também. Parabéns pelo trabalho maravilhoso, mas antes de tudo pelo ser humano maravilhoso que você é! Um beijo grande, Ana Rita

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  2. NOSSA, LINDO MESMO, SANGRIA SANGRIA!!!!!

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